Antes da nossa reunião, no grupo de amigos que nos visitavam, destacava-se um que se declarava inseguro e enfraquecido diante das obrigações de que se via encarregado. Dizia-se imperfeito e rodeado de inquietações. Lamentava-se por haver reencarnado em ambiente de grandes provas. Clamava contra ele mesmo, afirmando que abraçara a fé em Jesus mas não encontrava meios de sentir-se feliz consigo mesmo.
Pedia a algum benfeitor desencarnado que o auxiliasse.
Iniciadas as nossas tarefas, O evangelho segundo o espiritismo nos deu a estudo o item 3 do capítulo XVII. E, ao término da reunião, o nosso amigo André Luiz escreveu, por nosso intermédio, a página dedicada ao companheiro que rogava diretriz com afetuosa sinceridade.
Diz você, meu amigo, que não se encontra habilitado para as tarefas do bem, à vista das imperfeições que carrega.
Entretanto, ponderemos:
Se você:não experimenta empeços orgânicos;
se não suporta conflitos íntimos;
se vive isento de tentações;
se respira em clima de paz inalterável;
se você não tem familiares problemas;
se não sofre obstáculos no lar;
se não vê desajustes em seu grupo social;
se não encontra companheiros difíceis;
Se você:
não conheceu algum dia a solidão de perto;
caminha no mundo sem qualquer inquietação;
não enfrentou crises em seu campo individual;
nunca enxergou ao seu lado a presença do desânimo ou da aflição;
Se você:
não precisa esforçar-se para conservar seus amigos;
não conhece adversários na tarefa que a vida lhe confiou;
se trabalha sem críticos que lhe façam observações e lhe desafiem o espírito a discussões e distonias em serviço;
não experimenta contratempos e desgostos que, de quando a quando, lhe impulsionem o coração a renovações necessárias...
Se você desconhece algo desta lista de provas, então estará fora do seu nível de evolução.
Isso ocorre porque, na Terra, é justamente em problemas e lutas que obteremos as vitórias da alma.
Lembre-se:
A criatura humana realmente não entenderia a voz de uma estrela. E sem que a criatura humana ouça o verbo e receba a cooperação de quem lhe compartilhe as experiências, o esforço da evolução para cada um de nós, no clima do mundo, se faria impossível.
CAMPO DE PROVAS • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)
A Terra é um campo de provas. A vida humana, um estágio nesse campo. Temos as provas e as provações, que são coisas diferentes. As provas são meios de aprendizagem e as provações são consequências do passado, expiações de faltas cometidas em vidas anteriores. Se aqui estamos, é porque necessitamos delas. E se sabemos que nossas provas e expiações foram pedidas por nós mesmos, no mundo espiritual, devemos compreender que as pedimos porque a nossa necessidade era grande. O espírito encarnado vê com precisão, auxiliado pelos espíritos bons, os motivos da sua situação inferior no mundo espiritual; sabe que o seu mundo verdadeiro e definitivo é aquele e não o terreno. Compreende que a existência terrena é passageira e só tem por finalidade prepará-lo para a vida verdadeira e permanente. Quando na Terra, não tem o direito de se lamentar, mas o dever de enfrentar os seus problemas e agradecer a Deus as oportunidades de resgate, reparação e progresso que lhe foram concedidas.
Se o encarnado não procede assim é porque se deixou hipnotizar pelas miragens da Terra, perdendo a visão espiritual do seu verdadeiro objetivo na vida corporal. Mas a prece sincera é o recurso de que então pode dispor para solicitar o auxílio dos amigos do lado de lá. E toda prece sincera, toda solicitação legítima terá logo a sua resposta através de uma intuição, de uma advertência que parece surgir da sua própria consciência ou de uma mensagem amiga transmitida pela telegrafia humana da mediunidade.
Ninguém vem à Terra para gozar da felicidade perfeita, que só podemos desfrutar no mundo espiritual ou nos mundos superiores do espaço infinito. A felicidade na Terra consiste precisamente na oportunidade de enfrentarmos as nossas provas a expiações com firmeza e decisão. E sem lamentar, como ensina O evangelho segundo o espiritismo no item citado. Só são realmente felizes os que vencem o mundo, como ensinou Jesus, para se elevarem aos planos superiores da vida verdadeira, que é a vida espiritual.
Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"
do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.
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